domingo, 2 de janeiro de 2011

Função social da escola e a formação do cidadão

Cabe à escola formar cidadãos críticos, reflexivos, autônomos, conscientes de seus direitos e deveres, capazes de compreender a realidade em que vivem preparados para participar da vida econômica, social e política do país e aptos a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. A função básica da escola é garantir a aprendizagem de conhecimentos, habilidades e valores necessários à socialização do indivíduo. Estas aprendizagens devem constituir-se em instrumentos para que o aluno compreenda melhor a realidade que o cerca, favorecendo sua participação em relações sociais cada vez mais amplas, possibilitando a leitura e interpretação das mensagens e informações que hoje são amplamente veiculadas, preparando-o para a inserção no mundo do trabalho e para a intervenção crítica e consciente na vida pública. É necessário que a escola propicie o domínio dos conteúdos culturais básicos, da leitura e da escrita, das ciências, das artes, das letras. Sem estas aprendizagens, dificilmente ele poderá exercer seus direitos de cidadania. A escola, portanto, tem o compromisso social de ir além da simples transmissão do conhecimento sistematizado, preocupando-se em dotar o aluno da capacidade de buscar informações segundo as exigências de seu campo profissional ou de acordo com as necessidades de desenvolvimento individual e social. Precisamos preparar nossos alunos para uma aprendizagem permanente, que tenha continuidade mesmo após o término de sua vida escolar. Isto significa que em sala de aula devemos estar preocupados em desenvolver determinadas habilidades intelectuais sem as quais o aluno nunca será capaz de uma aprendizagem autônoma. É necessário a cada momento fazer o aluno pensar, refletir, analisar, sintetizar, criticar, criar, classificar, tirar conclusões, estabelecer relações, argumentar, avaliar, justificar, etc. Para isto é preciso que os professores trabalhem com metodologias participativas, desafiadoras, problematizando os conteúdos e estimulando o aluno a pensar, a formular hipóteses, a descobrir, a falar, a questionar, a colocar suas opiniões, suas divergências e dúvidas, a trocar informações com o grupo de colegas, defendendo e argumentando seus pontos de vistas. Um aspecto importante a ser considerado no que se refere à formação da cidadania diz respeito à formação de determinados valores, atitudes e compromissos indispensáveis à vivência numa sociedade democrática, tais como solidariedade, cooperação, responsabilidade, respeito às diferenças culturais, étnicas e de sexo, repúdio a qualquer forma de discriminação e preconceito. É função social de a escola propiciar a formação destes valores. Entretanto, valores não podem ser ensinados, mas devem ser vivenciados. É preciso que a escola e o próprio professor dêem testemunho daqueles valores que direcionam sua ação, fazendo da escola um ambiente de vivência de valores democráticos. Quando analisamos o debate que tem se processado em torno deste tema observamos que três aspectos têm se destacado. O primeiro diz respeito à gestão da escola. Para muitas pessoas, democratizar a escola diz respeito apenas à democratização dos processos administrativos. Isto significa, por exemplo, requerer que os diretores de escola, sejam eleitos através de formas participativas. Por outro lado prega-se a administração colegiada, que nos últimos anos vem sendo instalada em muitas escolas. Cada vez mais fica claro que a escola deve abrir-se à participação de todos os segmentos que constituem a comunidade escolar, para que estes tenham voz e voto e sejam capazes de contribuir nas discussões que irão levar à tomada de decisões. Um segundo aspecto da democratização, refere-se à concepção de que para se democratizar a escola há que se democratizar a sua oferta. Isto significa que a escola deve universalizar a sua capacidade de responder às demandas, isto é, enquanto houver criança sem acesso à educação formal por falta de vagas, não podemos falar que temos uma escola democrática. Ainda relacionado a este aspecto está a questão de garantir a permanência do aluno na escola. Não basta apenas criar vagas para todos. Dados estatísticos revelam que de cada 100 crianças matriculadas no primeiro ano, apenas 33 concluem o primeiro grau, e destas apenas 05 chegam ao 8ª ano sem repetência. A cada ano, milhares de crianças e adolescentes abandonam a escola sem ter concluído o ensino fundamental. O que é feito delas? Podemos chamar de democrática uma escola que exclui tantos alunos? Ao manter estes mecanismos de seletividade a escola passa a servir como instrumento de reforço às desigualdades sociais. Portanto, além de criar vagas para todas as crianças em idade escolar, é preciso pensar formas de garantir sua permanência na escola. Um terceiro aspecto que tem sido considerado na discussão sobre a escola democrática diz respeito à sala de aula, à democratização do processo pedagógico, da relação professor/aluno, aluno/aluno, aluno/conhecimento. Diz respeito também à utilização de metodologias participativas, centradas não na atividade do professor, mas no trabalho do aluno. Aqui também se deve considerar a flexibilidade dos planos e currículos, de modo a contemplar interesses emergentes. E também não pode ficar de fora a discussão sobre um processo democrático de avaliação da aprendizagem, preocupado não apenas em constatar as deficiências do aluno para decidir se ele será aprovado ou não, mas uma avaliação diagnosticadora, interessada em saber o que o aluno não aprendeu e por que não aprendeu, com o objetivo de que sejam tomadas decisões que permitam a ele apropriar-se do conhecimento.A discussão sobre a escola democrática certamente não se esgota nestes pontos, no entanto estes aspectos têm centralizado os debates travados em torno desta importante questão. Finalizando, deve-se dizer que a construção de uma escola competente, democrática e de qualidade é uma exigência social. De um lado somos responsáveis por sua construção, por outro lado, quando se trata da escola pública, não podemos imaginar que será possível concretizar este projeto de escola sem a decisão política dos órgãos governamentais. Sozinha, a escola não pode cumprir com sua tarefa social, até porque ela não existe isolada do contexto. Efetivamente o poder público vem elaborando uma política educacional clara, com objetivos bem definidos, cujo foco central é o atendimento escolar de boa qualidade. Faz-se agora necessário que a sociedade civil acompanhe controle e fiscalize as medidas que serão implementadas, exigindo do Estado o cumprimento dos dispositivos legais, pressionando para que seja garantida a infra-estrutura indispensável ao bom funcionamento das instituições de ensino.

6 comentários:

Maria Margarida disse...

Sou professora do segundo ano, é importante a nossa participação como
colaboradora para uma sociedade mais justa, foi pensando nisto, que eu e outra colega de profissão sempre procuramos além de oferecer as disciplinas habituais, mantínhamos um diálogo com cada aluno e vimos a dificuldade que eles tinham e nos preocupamos em ajudar para que pelo menos estas crianças fossem ouvidas com muito carinho.

Carlos Sarmento...! disse...

Goste muito do Blog ... com textos coezos e interesantes ... sou professor e coordenador de projetos do governo ... vou colocar um link desse blog no meu blog ... criticandoeconstruindo.blogspot.com ... parabens abs ...
Carlos Sarmento ... !

Francisca disse...

O discurso sobre a gestão democrática para todas as escolas é evidencia em todas as instâncias; jornais , revistas, televisão, órgaos públicos, entidades profissionais, ongs, entidades legislativas, outros, todos proconizam esta modalidade de gestão, que é pensada como resultado do compartilhamento de responsabilidades na tomada de decisões por todos os segmentos da comunidade escolar e, principalmente pela participação desses segmentos em conselhos escolares. Entretanto estas práticas naõ atingiram até hoje a essência do que se pretende com a gestão democrática que é também preconizada pela constituição Federal e a LDB é muito mais amplo: pretende-se a democratização da educação na sua amplitude estrutural, isto é, que a educação seja ofertada com qualidade, e que todos, igualmente, usufruam dessa qualidade com sucesso, fotos estes que nossos sistema de ensino estão longe de promover, devido não serem orientados por políticas públicas centradas em princípios fundamentais no desenvolvimento da educação que são; equidade, inclusão e padrão de qualidade. É preciso se re- construir estas práticas de gestão democráticas a partir desses principios mas para isto, é necessário uma co-responsabilidade consciente, partilhada e solidária dos sistemas de ensino, das escolas e de toda comunidade escolar. É também necessário que os recursos da educação sejam administrados com responsabilidade e destinados exclusivamente para a promoção da oferta e da qualidade da educação.

Eliete Gomes disse...

Parabéns!!!! Excelente texto!!!!
Nessa perspectiva, os conteúdos curriculares deverão estar sempre articulados com as práticas e os problemas sociais, cabendo ao professor organizar experiências e situações de aprendizagem que permitam que os alunos possam fazer relações entre esses conteúdos e as questões presentes em sua comunidade.
Onde a ciência e o conhecimento se renovam continuamente.

Eliete Gomes. coordenadora - Conselho Escolar - Itaguaí - RJ

Anônimo disse...

Muito bom esse Blogg!!!!!
Virgínia - Jundiaí - SP

Carla Simone da Mota Paes -Itaguaí disse...

A educação é responsável pela transformação social e como tal não pode ter seus conteúdos desvinculados a realidade social.Nós professores devemos ter consciencia que somos responsáveis pela formação dos futuros cidadãos, sendo assim a escola deve preparar criticamente o individuo para que este seja capaz de ter seus direitos e deveres pleitiados. A escola é apenas uma instituição na engrenagem da sociedade, porém é nela que reside a esperança de transforma-la.Um abraço.
Carla Simone da M. Paes Itaguaí -E.M.Das Acácias